sábado, 20 de novembro de 2010

...Ela se escrevia... mas nunca que se dava um fim...

Ela...
Ela tinha pequenas psicoses que, somadas com cautela a transformava em uma grande psicopata.
Era tudo muito ameno aos bobos desapercebidos, mas com olhos mais atentos, via-se, quase claramente, uma mente toda metida a desvios.
A começar pelos seus pavores insólitos:
Tinha medo de palhaços,
Bonecos,
Noites que demoravam a escurecer e pavor de todas as “gentes” que se vestiam... Imaginava ser uma controvérsia do ser em si e só acreditava em verdades ditas nuas, com pêlos e desmazelos à mostra.
Não gostava dos que riam gargalhada audível, só aos que metiam o riso na garganta Ela detectava algum rastro hilariante.
Só comia depois de conversar com a sua língua e só bebia se sede não a consumia. Nem se lembrava a última vez que se sentiu desejosa de algum líquido a não ser sua própria saliva.
Odiava as pronúncias infantis dos que se arriscavam na prática do falar. E nada lhe causava mais fadiga do que frases certas e incisivas dos que dominavam além da fala, o porquê de se traduzir em palavras.
Ela ia crescendo para dentro, cheia de grandes conhecimentos, sabedorias de milênios, músicas compostas, mentiras milagrosas, lugares suspensos... mas ainda era muito pequena, sensível, curvada e desfalecida.
Ela tinha perninhas magrelas de caminhar chão bruto dentro dela, ela pisava e se tornava pedregulho, era na vida semente mal parida... talvez por isso todas as suas pequenas manias a tornavam mais sabida de si.
E outra, ela se escrevia, mas nunca que se dava um fim.