domingo, 12 de dezembro de 2010

Massiva

Lavava a louça de  forma ritualística, enquanto ouvia algum setentista dedicado a solos maestrais.
Seu apartamento, com uma grande parede de vidro fumê e um tapete Persa, cheirava a móveis novos e a felicidade de família completa.
Ela esperava a volta dos seus, enquanto se distraia com vasilhames cheios de resíduos saudáveis de comida orgânica.
Já era noite e a vista lá fora era perfeita para uma oração de agradecimento pela recompensa por ter sido uma boa pessoa, ela não rezou.
Colocou com cuidado as vasilhas sobre a pia, e escorregadia, estendeu-se até a sala-de-estar... lá esteve no chão de madeira nobre e, desapercebidamente, meteu seus dedos ainda úmidos em sua buceta  seca. Delongou o estado de não excitação e sentiu o roçar pesado e incômodo do não-prazer.
Sem perceber, entregou-se ao passado e se masturbava pensando em seu tio bonito e inteligente que havia conhecido a Europa(atualmente morto e bem enterrado). E em uma inocência infantil, esqueceu-se de vigiar a porta e fora flagrada de pernas abertas,  pela sua amada família.
Não sentiu vergonha, pelo contrário, estava tão satisfeita pela chegada, que em um singelo sorriso e balançar de cabeça, convidou-os  até a noite, que bela, se instaurava na varando do 23º andar.
Eles caminharam em sua direção, e ela beijou com delicadeza a sua rainha e abraçou seu príncipe como querendo salvá-lo do mundo.
Eles concordaram com os olhos toda a beleza que ela enxergara naquela noite efêmera. E em um impulso não previsto nem por ela, escorregou delicadamente na garrafa de vodka que bebera na noite anterior, fazendo sexo naquela mesma varanda, da forma mais sublime que era costume Delas fazerem... e em um sobre-salto, sua cintura encostou no para-peito e, ainda de costas, despediu-se sem querer se agarrar àquelas vigas.
Ela, de pé na porta da varanda, deu as mãos a ele, sorriu e disse:
“-Vai, meu filho, diga a empregada para não deixar mais garrafas espalhadas pela casa, se não eu a despeço.”