quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Meu amor, deixei nosso edredom na segunda porta do guarda-roupa, molhei a orquídea, fiz um poema e coloquei perto do seu roupão...





Sim, meu amor! Estou indo até bem! Já faz um ano que não vejo meus parentes e há dois anos não ligo para parabenizar meus amigos.


Já faz tempo que larguei deus debaixo dos livros de literatura fantástica e há muito não entro em igrejas nem para batizado dos meus próximos.

Meu bem, já não vazo lágrimas quando à noite você desiste de vir para casa, e me pintei uma casca que nem dor detectam em minha falta de sorriso, imaginam ser apenas indiferença.

Não, meu amor! Não que eu não sinta sua falta, não que eu não sinta a minha falta, mas foi tão intensa a falta de intensidade em nós, que já não há possibilidade de nos resgatarmos.

Mas continuo preocupando-me com a dívida externa e com a matança de animais em caças despropositadas na África. Enche meus dias!

Hoje preparei o café da manhã com suas frutas prediletas, escolhi um vinil setentista, abri desapercebidamente a janela para que apenas poucos raios de sol entrassem na sala... o cheiro era de “manhã em que se aceita uma proposta de casamento”... mas você viajou, foi para perto de seus ideais. Ainda sim degustei minha manhã com gosto da gente e fui imensamente satisfeita para meu banho, para minhas roupas, para meu carro, para minha rua, meu trabalho, aquele bar, nosso drinque, alguns cigarros... meu carro, minha saudade, uma rua... uma buzina, faróis, um barulho estrondoso.

Meu amor, deixei nosso edredom na segunda porta do guarda-roupa, molhei a orquídea, fiz um poema e coloquei perto do seu roupão.

Não volto para casa...



Amo-te.

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