terça-feira, 8 de março de 2011

Castanholas e barbantes de inverno


Era tudo orquestrado... o baticum do seu coração-banda acelerava com a chegada do fim. Era aquele misto homogêneo: se é bom é boa coisa, se é mau, boa coisa seria também. Ela havia decidido reformular, reaver, reinventar tudo, sem se ligar se eram coisas pré-determinadas pela sua razão, pela emoção, pelo senso comum que ela vinha matando há dois meses.
Mesmo assim ela se surpreendia com seu novo ar de assassina-de-si... mas era pra renascer, pra desfazer a repulsa do prefixo “re”.
Havia decidido não decidir as nomenclaturas de seus sentires... não queria nome e nem sobrenome e nem acariciar as mortes que ela trazia sempre tão vivas em sua cachola penetrável.
E vinha se divertindo... com os mosquitos, vestígios de putrefações sentimentais, recém querências tão para o núcleo, tão dentro, dela para ela.
Até sonhou ter saltado de um prédio, mas dessa vez havia amarras que a balançavam como o voar de uma borboleta de asas furadas.
Estava experimentando, sem peso, sem a sensação de querer o novo por não suportar o antigo, estava radiante, com olheiras tão vívidas que viraram ponto de partida para elogios brandos.
Sem dar-se conta, lá estava ela toda nua ao meio-dia pronta para a meia noite de todas as noites que viriam. Estava resplandecente, de uma brancura divina e peculiar aos santos.
Aí veio deus, que a tocou e tornou-se bege, envergonhado... mas ela o abraçou e resolveu perdoá-lo, mandou-o colocar-se de pé.
Como era libertador ser assim, tão segura da sua própria salvação. Recebeu até convites para ser a nova salvadora da humanidade... mas não era tempo de se dar a modas enfadonhas. Ainda sim, agradeceu.
E nessa ela viajou, aprendeu o silêncio puro e não o punitivo que já gritaram a cusparadas em sua fronte (antes própria para escárnio).
Agora ela “antropofagiava” a si, e crescia e crescia em velocidade inteligível-filosófica... era na idéia, era na dita alma.
Bloqueou-se com a boca fechada, inalava o antigo, o mofo, o perdido para reciclagem em sua máquina-perfeita-corpo, e logo, baforava verão, primavera e outono. Tão bonito aquele regurgitar que ela tapava a boca por segundos para gozar das estações em sua língua.
Grande, muito grande ela se tornou, tão grande que não viam além de suas genitálias. Já não sabiam a cor de seus olhos.

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