sábado, 12 de março de 2011

Dilacerada borda da linha


Eles.
Eles todos tinham unhas _ alguns, faltava os dedos _
Unhas e gestos nas mãos.
Não tinham feições e nem lhes ocorria idéias ou contradições.
Eram muito sem cor e o convencional era: não ser!
Nunca foram tolos, pois nenhum esperto havia servido de comparação experimental de comportamentos psicológicos.
Havia alguns pontos em comum:
- a boca semi-aberta com dois dentes saídos do meio do céu-da-boca.
No céu-da-cabeça, cada um tinha uma peculiaridade:
- doze milhões dos que vi tinham uma tampa ‘inabrível’ e um chumaço de palavras intraduzíveis;
- sete mil deles tinham uma cartola invisível cheia de truques previsíveis;
- nove não tinham nada e quatro: tudo!
Eram trípedes, mas moviam-se sobre uma única perna, logo, se deslocavam saltitando, todos para uma única direção, mas cada um em um sentido meio torto, meio ao avesso.
Pegavam furacões e tornados com as dobras dos pés, aqueles dois pés que flutuavam e não eram úteis para caminhar. Plantavam sementes com os olhos e cuspiam adubo humano.
Sentiam prazer, muito prazer quando estimulados em sua única costela – que se localiza à direita do ombro esquerdo- e também se alegram ao mastigar pragas – gafanhotos sempre os fazia salivar-.
De tão monogâmicos matavam todas as suas fêmeas e comiam e vomitavam seus pedaços. A cada dia, as reconstruíam de forma diferente. A disposição dos membros a cada vômito noturno delineava a nova forma a ser formada então.
E eles (somente eles) tinham o sopro da vida e só sopravam quando os pássaros morriam.
Gostavam de cultivar grãos e plantas de folhagem amarelada. Nunca souberam o porquê.
Tinham uma auto-crítica aflorada, tão aflorada que, quando não satisfeitos com eles, arrancavam o único olho e o posicionava em suas próprias cloacas.
Todos que conheci: - os sete milhões de tampas ‘inabríveis’;
-os sete mil com cartolas invisíveis;
-os nove que não tinham nada;
- os quatro que tudo tinham,
Todos andavam sem calça, com passo invertido e de cloaca bem aberta para enxergarem e não tropeçarem no próximo buraco do caminho.

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