sábado, 23 de outubro de 2010

Nostalgia a beira-morte



Agora, o que eu mais quero, é chamar aquele fulano, aquele com o suporte de soro, com calça moleton e brincos nas duas orelhas. Quero chamá-lo para que ele, amigavelmente me dê um trago!
Não! Eu não seria capaz!
Primeiro: por que eu não o conheço.
Segundo: pela minha incapacidade pulmonar.
Terceiro: pela tal bacteria desconhecida que pode matá-lo.
Bom talvez o primeiro motivo, anule o terceiro! Não o conheço, talvez possa matá-lo, afinal, quem está aqui já está à beira.
O que eu sei é que aqui, tudo fede bosta! Até eu que não "evacuo" (obrigada pela gentileza, Dr. Thiago), desde que cheguei, tenho esse cheiro impreguinado.
É bosta com antibiótico e éter, para dar o tempero final.
Os dias se arrastam e as noites vêm regadas a dor e a alguns delírios provenientes dos remédios venosos.
Já me sinto quase em casa, com meu cobertor, travesseiro de plástico, enfermeiras 12 por 36 (uma delas muito me agrada!) e o chinelinho arrastando pelos corredores.
Sei que quero ir embora (na verdade, não sei). Já surtei, chorei, recebi amigos (alguns não me cabiam), pais, ex e gastei tudo o que eu podia com o telefone.
Já lambi ou bebi muita comida de hospital e, hoje, pela primeira vez, fiquei feliz em ver aquela bandeja verde e bege: arroz, feijão e bife! Sólidos! Sim!!! Engoli! Com muita dificuldade, mas engoli!
Quatro dias sem mastigar! Acabou? Não. Ainda viriam as intoxicações, as pré-mortes, e os suicídios que eu me causaria.
Sei que nas horas vagas (todas!) nem repudiei a vida. Parei para refletir 2 vezes. Uma sobre: "de onde vem esse cheiro?" E outra sobre a minha vida.
No mais assisti Simpsons e comédias burras triviais.
Trouxeram, furtivamente, vários danoninhos... pra variar, passei mal! Comi-os escondida no banheiro, mas durou menos de 15 minutos no meu estômago. Lá estava eu chamando a enfermeira para me ajudar a levantar e ir ao banheiro... mas pedi para aplicar um remédio para amenizar a dor de garganta, afinal o esforço proveniente do vômito era cruel demais pra mim. 
Hoje comi chocolate e uns 5 cebolitos cedidos por Antônia ( a senhora que operou o intestino e estava tendo algumas reações bem barulhentas!).
Enviei muitas mensagens e recebi boas respostas.
Envolvi ainda mais alguém na minha vida, e não sei até onde isso é correto.
Falei sem poder e quis arrancar meu pescoço inteiro.
Agora já estou bem, quase anestesiada pelo meu não movimento.
Quiseram me dar banho... mas não funcionou! Me banhei sentada na cadeira fria de metal. Chorei durante todo o banho, a água não esquentava.
Não! Não que eu goste da vida, mas se tenho que viver, que pelo menos a dor física  não seja tão eminente.
Não me importo em arrumar subterfúgios para uma vida quase digna disfarçada de boa.
E o primeiro passo é evitar a dor física! Com as outras dores eu me lasco e me conserto.
Bom, vou-me deitar, assim a noite passa rápido e logo chega a melhor parte: banho matinal (ou algo que nomearam de banho... por que não é tão higiênico assim.).
Espero ir embora amanhã... mas, eu estava esperando por isso ontem também... e há três dias atrás essa era minha esperança... e quando eu entrei nem sabia que eu deveria esperar tanto.



                                                                                       (Maio de 2009... (in)Felizmente: Sobrevivi!)

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